O cantor sertanejo Bruno, da dupla com Marrone, prestou depoimento à Polícia Civil na sexta-feira (15) no contexto de um inquérito sobre uma declaração considerada transfóbica. Ele afirmou que “não teve a intenção de insultar a vítima e que tem respeito pela comunidade LGBT”. Bruno explicou que questionou a repórter sobre sua genitália “apenas por curiosidade”.
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), em São Paulo, está investigando o incidente, que envolve uma declaração invasiva feita a uma repórter transexual em maio de 2023.
Durante uma preparação para uma entrevista com a jornalista Lisa Gomes, da Rede TV!, Bruno fez a pergunta sobre sua genitália usando uma linguagem vulgar. Constrangida, Lisa perguntou: “O que você quer dizer?”. Bruno repetiu a pergunta em voz alta: “Você tem p**?”.
Em seu depoimento, Bruno afirmou que não sabia que estava sendo gravado, pois a conversa ocorreu antes do início oficial da entrevista e foi descontraída.
Ele também mencionou que após compreender a complexidade do processo de transição enfrentado por Lisa, sentiu-se esclarecido e pediu desculpas por reconhecer que sua pergunta foi inadequada. Bruno relatou que, durante a conversa com Lisa, ela sugeriu que ele fizesse uma retratação pública.
Em resposta, três dias após o incidente, o cantor publicou um vídeo se desculpando, admitindo ter agido de forma “infantil” e “inconsequente”.
Ao final de seu depoimento, Bruno enfatizou que não teve a intenção de ofender a vítima, negou ser uma pessoa preconceituosa e demonstrou arrependimento por sua conduta. Ele reforçou seu respeito por todas as mulheres, independentemente de serem trans ou cisgênero.
O que diz a defesa
Por meio do advogado, em resposta à polícia, Bruno negou e afirmou que a situação ocorreu momentos antes do início da entrevista, em conversa informal entre as partes, e disse que se desculpou com a vítima.
Destacou que a fala foi inapropriada, “mas sem configurar ilícito penal, protestando pelo arquivamento deste procedimento”, escreveu a polícia no relatório. Em dezembro, o MP pediu para que o investigado fosse ouvido na delegacia e a vítima apresentasse testemunhas.
Em nota, a defesa do cantor confirmou o depoimento e disse que o cantor irá “reafirmar que fez somente uma indagação à jornalista, sem qualquer intenção de constrangê-la ou discriminá-la em razão de sua condição de transgênero”.
‘Me senti invadida’
“Esse processo de transição é um processo muito doloroso, muito difícil, porque eu nunca soube lidar muito bem com essa questão da aceitação do corpo, tudo isso que vocês já conhecem em relação às mulheres trans”, disse a repórter, na época. “De uma forma mais clara, porque a gente nasce no corpo errado.”
Lisa comentou que teve seus direitos violados e que precisou “tomar calmantes no dia do ocorrido.”