A mexicana islâmica Paola Scheitekat Sedas, de 28 anos, foi condenada a 100 chibatadas, além de 7 anos de prisão por ter sido vítima de um estupro no Catar. O tribunal árabe justificou que Sedas teria tido “relação extraconjugal”. O crime ocorreu no ano passado após a vítima ter tido o quarto invadido enquanto dormia.
Paola, que é economista comportamental, trabalhava na organização da Copa do Mundo de 2022, por meio da Supreme Committee for Delivery and Legacy, responsável por obras nos estádios do campeonato. No dia 6 de junho do ano passado, enquanto dormia, a mulher teve seu quarto invadido por um homem, que a estuprou.
A princípio, a economista preferiu não tornar público o caso, porém, posteriormente ela decidiu tornar pública a violência sofrida e fez uma denúncia formal junto à justiça do Catar. Mesmo com exames, marcas e hematomas pelo corpo, que atestavam o estupro, os holofotes se voltaram contra ela.
A partir daí, o cônsul do México no Catar, Luis Ancona, encorajou Scheitekat a recorrer e ir até a última instância. Foi o que ela fez. O criminoso precisou apenas alegar que a jovem teria “consentido” para ser liberado. Ele, inclusive, foi colocado de frente à Paola durante as investigações pelas autoridades policiais.
Apesar de haver um sistema judiciário no Catar, as tradições islâmicas ou sharia também são determinantes nas condenações civis. Quase 80% da população dos Emirados Árabes segue as leis islâmicas, inclusive, também podem ser aplicadas a quem não segue.
Depois de tudo, a economista conseguiu sair do Catar e voltou para a casa da família, na cidade do México. Mesmo assim, o processo segue tramitando na Justiça daquele país. Ela foi informada que, por não haver câmeras ou imagens que tivessem flagrado o crime, o homem foi absolvido.
No último dia 14 de fevereiro, quando estava de volta ao México, houve uma segunda audiência sobre o caso de “relação extraconjulgal”. Nem ela nem a defesa compareceu. A próxima data marcada para a próxima audiência será no próximo dia 6 de março, no tribunal de Doha.
Ao site El País México, Paola deu detalhes de como foi enfrentar o caso junto às autoridades árabes sem o auxílio diplomático correto. O próprio chanceler, que em um primeiro momento a encorajou a levar o caso adiante, chegou a dizer que ela deveria ter “trancado melhor” o quarto, sugerindo que isso teria evitado que o criminoso a estuprasse.
“Eu acho que há um despreparo muito grande com a perspectiva de gênero. Um diplomata pode ser excepcionalmente culto, pode ser extremamente capaz e ao mesmo tempo extremamente excludente ou misógino ou misógino, e essas são as coisas que precisam ser abordadas”, completou.