O Ministério Público do Amazonas (MPAM) investiga as condições de abandono das covas onde estão enterradas as vítimas da Covid-19 e a Prefeitura de Manaus optou por erguer um polêmico monumento na entrada do Cemitério Nossa Senhora Aparecida: um anjo usando máscara, segurando um par de pulmões. A iniciativa, que a gestão do prefeito David Almeida (Avante) batizou como “Praça do Anjo”, foi recebida com uma onda de críticas nas redes sociais, onde muitos classificaram a execução da obra como “meia-boca”.
A escultura, inaugurada no bairro Tarumã, Zona Oeste de Manaus, rapidamente se tornou alvo de indignação. Para familiares das vítimas e internautas, a estátua não representa um memorial digno, mas sim um ato de desconexão com a dor da população. As críticas se concentram na falta de empatia da gestão, no design considerado esteticamente questionável e na aparente priorização de um gesto simbólico em detrimento da manutenção prática do próprio cemitério, que se encontra em estado precário e abandonado.
Nas redes sociais, algumas pessoas comentaram o contraste entre a preocupação com determinados eventos, como o #SouManaus, e até mesmo o Parque dos Gigantes, onde há várias esculturas de animais da região, muito mais bem feitos. “Tudo ficou no passo a passo, o resto só deu pra isso mesmo”, escreveu um internauta falando sobre a falta de empenho no trabalho que seria uma homenagem às vidas perdidas.
Não é a primeira vez que a administração municipal enfrenta reações negativas devido a intervenções artísticas. Ainda este ano, a construção de uma réplica do “Touro de Wall Street” na sede da Secretaria Municipal de Limpeza e Serviços Públicos (Semulsp), gerou controvérsia. Apelidado nas redes de “touro de ouro”, o monumento foi uma ideia do secretário Sabá Reis, que justificou a obra como um símbolo da “eficiência econômica” da pasta. David Almeida adorou.
O contraste entre a inauguração do anjo e a realidade do cemitério – alvo de apuração do MP-AM por limpeza, manutenção e abandono de covas – não passou despercebido. Cidadãos e críticos da gestão questionam publicamente se os recursos aplicados na estátua não poderiam ter sido direcionados para a recuperação e a dignidade do local, levantando um debate sobre as verdadeiras prioridades do poder público em meio a um luto coletivo ainda tão presente.