As principais lideranças do Comando Vermelho atuantes no Amazonas transferiram seu centro de operações para os complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. De dentro dessas comunidades, consideradas “condomínios do crime” pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas, Marcus Vinícius Almeida, os chefes do tráfico gerenciam seus negócios à distância, em um esquema que já foi classificado como “home office do crime”. Para garantir sua proteção contra operações policiais, os foragidos pagam mensalmente entre R$ 50 mil e R$ 150 mil a traficantes cariocas.
De acordo com informações do Estadão confirmadas pela secretaria amazonense, os 13 principais chefes da facção no estado estão refugiados nesses redutos. A lista inclui nomes de alto escalão, como Sílvio Andrade Costa, o “Barrinha”, tido como a maior autoridade do CV no Amazonas, e Caio Cardoso dos Santos, o “Mano Caio”, ambos com mandados de prisão em aberto.
A recente megaoperação no Rio, considerada a mais letal da história do estado, resultou na morte de sete integrantes do crime organizado ligados ao Amazonas. Entre os mortos estavam Douglas Conceição (“Chico Rato”) e Francisco Myller (“Gringo”), que, mesmo de longe, mantinham funções de comando em Manaus. “Matam com uma facilidade impressionante, com requintes de crueldade”, destacou o promotor Leonardo Tupinambá, coordenador do Gaeco do MPAM.
Segundo o Ministério Público do Amazonas, o CV hoje domina aproximadamente 90% dos territórios criminosos no estado, consolidando-se como a facção hegemônica na Região Norte. O grupo controla ainda a estratégica rota do rio Solimões, crucial para o transporte de entorpecentes como cocaína e skunk. Estima-se que a facção tenha cerca de 10 mil integrantes diretos no Amazonas, além de colaboradores terceirizados integrados em “consórcios” logísticos.
O fluxo migratório de chefes do crime para o Rio intensificou-se nos últimos dois anos, impulsionado pela prisão de importantes líderes em outras regiões. A captura de Ocimar Prado Júnior, o “Coquinho”, no Paraguai em 2023, é citada como um marco nesse processo. “Depois que começaram a ser presos fora da região, passaram a migrar para lá”, explicou o secretário Marcus Vinícius.
Relatórios de inteligência da Abin confirmam a presença do Comando Vermelho em quase todo o território nacional. Sua estrutura organizacional flexível, menos centralizada que a de concorrentes, facilita a expansão e o controle de áreas distantes, incluindo a região de fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.
A consolidação do CV no Norte do país tem uma história: pesquisadores apontam que o Pará serviu como porta de entrada da facção na região há mais de dez anos. Seu fortalecimento no Amazonas ganhou força a partir de 2017, quando a organização estabeleceu alianças com a Família do Norte (FDN), então dominante no tráfico local. Desde então, a facção carioca assumiu o protagonismo do crime organizado no estado.


