Enquanto segura a pavimentação da BR-319, por conta de supostos danos ambientais, o Governo Federal prepara, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), licitações de concessão para exploração privada de áreas florestais no Amazonas, que incluem o CIGS e área nativa em Lábrea.
Os projetos estão no sistema do próprio Governo ao qual nossa reportagem teve acesso nesta sexta-feira (8). Na justificativa do Governo Federal afirma que o projeto pode ser sustentável e viável do ponto de vista econômico.
A iniciativa, diz o Governo, é dada Floresta Nacional para manejo florestal sustentável com a exploração de produtos florestais madeireiros e não madeireiros nas Unidades de Manejo Florestal (UMFs).
Veja:
CIGS NA JOGADA
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Exército assinaram em janeiro deste ano dois contratos relacionados ao Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, e ao zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus.
O CIGS é outro “investimento” dessa empreitada polêmica. O próprio BNDES ficará responsável por diagnosticar os ativos imobiliários do Exército, os serviços e as necessidades de infraestrutura. Também definirá o modelo de concessão a ser adotado para valorizar os dois empreendimentos em futura licitação pública.
“Esses projetos contarão com o apoio do BNDES para melhorar e requalificar espaços públicos do Exército Brasileiro. Tanto o Forte de Copacabana quanto o Zoo do CIGS são patrimônios nacionais, e agora teremos a oportunidade de torná-los ainda mais atrativos para turistas e moradores aproveitarem todo o seu potencial”, disse Nelson Barbosa, diretor de Planejamento e Relacionamento Institucional do banco.
Os projetos de concessão dos dois lugares será por meio de parceria público-privada. Todos estão qualificados no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). O acervo do zoológico tem 162 animais – somente amazônicos brasileiros – distribuídos em 56 espécies, o que inclui algumas ameaçadas de extinção.
O Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana recebem cerca de 35 mil pessoas por mês. O museu tem um acervo de 15 mil peças, além de indumentárias, armamentos e objetos de uso pessoal históricos.
E A BR-319?
A concessão fere de morte o discurso que tem impedido a pavimentação da B319. Ao mesmo tempo, contradiz o momento em que o Brasil está no centro da questão ambiental, coberto por fumaça, queimadas e sem controle do desmatamento.
Manaus, inclusive, segue com ar poluído. A ministra Marina Silva alega que a BR-319 não pode ser asfaltada por risco de dano ambiental, mas não comentou ainda os projetos do BNDES.
Em algumas estações no interior, a qualidade está classificada como “péssima”, um nível de poluição por causa da fumaça ainda pior, segundo a medição. Chegando a 323 pontos em Humaitá, 257 em Apuí e 152 em Nova Aripuanã.
Diante desse cenário, a alergista Nádia Betti reforça que todos precisam ter atenção, principalmente idosos, crianças e pessoas com alguma comorbidade.
“De acordo com o grau de poluição que tá naquele dia, tem algumas recomendações, né? Pessoas que têm problemas pulmonares, como asma, doenças obstrutivas crônicas ou mesmo uma rinite, uma conjuntivite, acabam piorando. Podem adentrar em crise, ter ardência ocular, desencadear uma crise de rinite, e espirros, uma irritação nas vias aéreas”.
Para quem precisa seguir com a rotina e transitar pelas ruas, a médica dá algumas recomendações.
“Sempre se hidratar, hidratação é fundamental; então, levar uma garrafinha de água. Se puder, ter um lubrificante ocular, assim como lubrificante nasal. Dependendo da qualidade do ar, você usa máscara também; e, de preferência, ficar em locais fechados. Então no período que você está se locomovendo de um local para outro, não há como. Mas se você tiver, por exemplo, um carro, vidros fechados, ar condicionado, sem o ar ambiente entrar dentro do carro. Quem tem condições, ainda pode comprar um purificador de ar”.
Dados do programa “Queimadas”, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam que em todo o Estado do Amazonas foram registrados 706 focos entre a última sexta-feira e esse domingo. 29 deles foram em municípios da Região Metropolitana de Manaus. Em julho de 2024, o Amazonas bateu recorde de número de queimadas para o mês, foram mais de 4,2 mil.
Nossa reportagem pediu posicionamento do BNDES sobre os projetos, a viabilidade e prazos para implementação, mas não obteve resposta.