Quanto custa um vereador em Manaus? O raio-X da política mostra que é muito dinheiro. No caso do vereador Carpê Andrade, cotado para ser candidato a deputado estadual, a conta passa de R$ 600 mil só em salários e Cotão. É o que o parlamentar de primeiro mandato custou desde o ano passado, quando assumiu, até o momento.
Carpê foi eleito na esteira dos militares que desde a chegada de Bolsonaro ao poder tornaram-se favoritos a votos no Brasil. Situado na Compensa e baseado nos algoritimos das redes sociais, Carpê encontrou na pauta benevolente, postagens ao lado da comunidade e campanhas contra suicídio na Ponte Rio Negro um alvo ideal para vender a imagem do policial comunitário e preocupado com o bairro.
Mas a partir da entrada na CMM o cenário mudou. Em 2021, quando os salários dos 41 vereadores era de R$ 15.031,76, Carpê foi apresentado ao privilégio de ter o Cotão para bancar o mandato.
Gastou R$ 181.516,91 e começou a aparecer na mídia com polêmicas.
EX-MULHER E PENSÃO
Carpê teve de enfrentar logo de saída um processo por não pagar pensão alimentícia. A ação foi firmada pela ex, que o acusou de abandonar o filho.
Acusado de esconder renda, agressão verbais e morais, Carpê viu que como homem público as polêmicas particulares não ficariam mais escondidas nos tribunais.
Acabou condenado a pagar a pensão, após cinco anos de idas e vindas.
Ao mesmo tempo, Carpê passou por uma saia justa por acúmulo de salários. Seu nome apareceu no Portal da Transparência do Governo do Amazonas, na listagem de servidores ativos da PM, aguardando reserva, com valores de vencimentos regulares de R$ 17.773, 87. Isso, já contando que o nome também estava incluído na listagem de pagamento dos legisladores municipais com salário de R$ 11.222,21.
Na época foi o burburinho. Em nota, a Polícia Militar tentou apaziguar justificando que o pagamento ao vereador era legal: “A legislação em seu artigo 4° da lei n° 3.725/2012, determina que o policial militar continue recebendo a remuneração até a efetivação do seu desligamento do serviço ativo por motivo de reserva, que será publicação.”
Carpê se irritou, mas a essa altura o nome do parlamentar já estava sob pressão os holofotes da opinião pública.
PERSONAL PAGO COM VERBA DE GABINETE
Carpê viveu mais uma forte emoção no primeiro ano de mandato. Foi denunciado pelo Movimento Brasil Livre (MBL Manaus), de colocar o personal na folha da CMM para ter aulas particulares e manter a forma.
Ricardo Leôncio foi defendido com unhas e dentes pelo vereador. “Ele trabalhou comigo de forma voluntária, inclusive, no período de campanha temos vídeos juntos. É um profissional com formação acadêmica (marketing e educação física) e tem contribuído para o meu mandato. Além disso, faz parte de uma equipe composta por pessoas de confianças e capacitadas, porque eu trabalho de forma séria e honesta”.
O personal recebia R$3.148,09, já com os descontos, conforme mostra o Portal da Transparência da Câmara Municipal. O salario incluiu R$ 1 mil referente a vencimento + R$ 2 mil de ganhos eventuais + R$ 458,44 de outras vantagens, que totalizam a quantia de R$ 3.458,44.
Além do personal, Carpê mostrou um grande preocupação com a imagem…
VEREADOR BLOGUEIRINHO
De tanto transformar o rosto e postar a mudança de fisionomia, Carpê ganhou o apelido de “vereador blogueirinho”.
“Meu caro queremos ação nas comunidades que elegeram você, não queremos fotos queremos um verdadeiro representante”, escreve um seguidor. “Pediu pra sair da câmara e voltou pra polícia????”, escreveu um seguidor.
Carpê tem fotos de todos os tipos em suas redes. Comendo, dançando, vestido com a farda da PM, até montagem com o personagem “Pitibicha”. Também há postagens deitado na cama, ou dando close na CMM, imagens que se confundem com o mandato.
Apoiado em pautas bolsonaristas, falando sempre para seu público fiel, Carpê entrou na onda dos políticos que “mitam”, sem necessariamente transformar isso em pauta em benefício do povo. “Moral que é bom acabou né capitão?”, criticou um internauta,.
FICAR NA CMM OU TENTAR A ALEAM?
Em 2022 Carpê se vê com um pé na CMM e outro na campanha. Em dois anos a popularidade do vereador desidratou, mas os gastos não.
Até abril já consumiu mais de R$ 59 mil de Cotão, e somou R$ 240 mil da Cota de Exercício Parlamentar em menos de dois anos de legislatura.
Parlamentar da direita, Carpê vê outros nomes do seu lado da bancada mais fortes. Desgastado pelas polêmicas e pouca eficiência parlamentar, nada indica que uma possível candidatura a deputado estadual possa emplacar.
BAIXA ATUAÇÃO PARLAMENTAR
Apenas 28 PLs em 2021 e menos ainda em 2022, com apenas 10. Carpê não se destacou em sua atuação parlamentar. De acordo com os dados oficiais da própria CMM, não participou de nenhuma frente parlamentar, e nenhuma relatoria.
GAROTO DE RECADOS
Por fim, Carpê é presidente de apenas uma comissão na Casa, a de Segurança Pública, área que lhe rendeu uma nota de repúdio justamente na Aleam, após acusa os deputados estaduais de travar a aprovação de uma gratificação a policiais militares.
Acabou desmentido pelo deputado estadual Delegado Péricles, que o chamou de propagador de fake News e o chamou de “garoto de recados”.
“Devemos combater esse tipo de fala, repor a verdade e combater essas fakenews de alguém que deveria realmente defender os policiais, mas está agindo como um garoto de recado. É mais uma mentira.”
Recentemente, em uma das sessões na Câmara Municipal de Manaus, o vereador também se atrapalhou, ao ser questionando pelo colega Marcelo Serafim sobre um Projeto de Lei de sua autoria. A ideia inusitada era criar um Banco Municipal Ortopédico: “O que seria isso?”, pergunta Marcelo. O parlamentar, claramente constrangido, disse: “Eu vou mandar lhe mandar uma cópia para o senhor dar uma analisada”, respondeu com a voz insegura.
Em seguida, o presidente da Casa em atuação Wallace Oliveira (Pros), teve de intervir. “Vereador foi solicitado uma explanação em relação ao conteúdo do projeto de vossa excelência”. Carpê imediatamente responde e mostra que não sabe do que se trata. “Vou pedir para vossa excelência tirar de pauta”.
O OUTRO LADO
Em todos os episódios no qual foi acusado, Carpê jamais admitiu culpa. Desde a pensão, passando pelo episódio dos salário duplo, Carpë sempre se defendeu.
“O problema é que eles queriam falar ”o vereador ladrão de vocês”; ”o vereador mau caráter; ”o vereador criminoso”… eles nunca terão esse prazer porque o meu defeito é ter quase 200 mil seguidores”, disse Carpê.