As câmeras corporais dos policiais revelam a crueldade de uma execução: Jeferson de Souza, 40 anos, alagoano em situação de rua, foi morto com três tiros de fuzil que atingiram cabeça, tórax e braço enquanto estava imobilizado, desarmado e chorando sob o Viaduto 25 de Março, no Centro de São Paulo. As imagens, obtidas pelo Ministério Público, mostram que ele estava sentado, de pernas cruzadas e mãos para trás, sem oferecer qualquer resistência, quando foi alvejado na noite de 13 de junho. Um dos PMs ainda tentou esconder o crime, tapando a lente da câmera no momento dos disparos.
Os PMs Alan Wallace dos Santos Moreira, tenente da Força Tática, e Danilo Gehring, soldado, alegaram que Jeferson tentou pegar a arma de um dos agentes e que era foragido por estupro e ameaça. Mas a Polícia Civil não encontrou nenhum registro criminal ou sequer conseguiu confirmar a identidade da vítima pelas digitais.
Agora, ambos estão presos no Presídio Militar Romão Gomes, denunciados por homicídio doloso, falsidade ideológica e obstrução da Justiça. A defesa do tenente alega legítima defesa, enquanto o soldado Danilo sequer teve sua defesa localizada.
Na decisão que determinou a prisão dos PMs, a juíza Luciana Scorza foi enfática: “A vítima estava rendida, absolutamente incapaz de oferecer qualquer risco. Os policiais agiram com sadismo e demonstraram absoluto desprezo pelo ser humano.”
O tenente Alan foi quem efetuou os disparos. Já o soldado Danilo participou do crime ao tampar a câmera no momento dos tiros, tentando apagar a prova do assassinato.
Até a própria PM condenou a ação. O coronel Emerson Massera, porta-voz da corporação, classificou o caso como “vergonhoso” e “inaceitável”: “O vídeo desmente completamente a versão dos policiais. Ele [Jeferson] estava tranquilo, conversando, e do nada recebe três tiros de fuzil. É uma ocorrência sem nenhum respaldo jurídico. Nos envergonha muito”.
Enquanto isso, a família de Jeferson sequer conseguiu resgatar seu corpo, que permanece como “não identificado” no IML.
O homem era alagoano, foi para São Paulo após perder a mãe e queria ser jogador de futebol. Na “cidade grande”, não teve oportunidades como gostaria, caiu no mundo das drogas e ficou em situação de rua. Sem documentos e sem justiça, sua história se soma às centenas de vidas invisíveis perdidas na violência do Estado.