Uma triste notícia: Um palhaço do Circo Sul Americano, que está montado na comunidade União da Vitória, no bairro tarumã, zona Oeste de Manaus, tirou a própria vida. A informação foi confirmada pela Polícia Militar.
Segundo moradores da comunidade, o homem tinha sido visto na noite dessa segunda-feira (7), pedindo ajuda e oração, inclusive teria sido convidado a participar de um culto.
O circo trabalha há anos no interior do Amazonas e estava em Manaus desde o dia 25 de fevereiro. Um dos integrantes do circo se pronunciou por meio de uma rede social lamentando a morte do palhaço. “É uma perda grande para nós do circo. Infelizmente aconteceu, ele não estava bem, tentamos ajudar a ele, mas infelizmente não podemos fazer mais por nosso palhaço”, disse Whowkito Rubem.
O que é depressão
A depressão é uma das doenças que pode levar alguém a cometer autoextermínio. No entanto, não é a única. A psicóloga especialista em saúde mental Thaís Alves explica que outros transtornos mentais e processos dolorosos, além da dependência química, também podem desencadear tendências suicidas. Ela explica que tirar a própria vida está entre as cinco causas de morte com maior ocorrência em todo o mundo. E crava: é preciso discutir o assunto, de forma responsável, cada vez mais. “Falar sobre morte é também falar sobre possibilidades de vida”, diz.
“O suicídio é algo que acompanha e atravessa a existência humana desde seus primórdios. Diversas ciências se propõem a pensar a existência e há bastante material sobre o assunto. Ainda assim, até hoje é muito difícil falar sobre esse problema e enfrentá-lo”, pondera. “O suicídio ocorre quando o individuo tem dificuldade em lidar com problemas do campo da perda de possibilidades, dos laços. A morte é vista como uma forma de atenuar o sofrimento. Não trata-se de um interesse pela morte em si, mas de encará-la como um meio para uma finalidade”, conta.
A especialista aponta o fato de o autoextermínio ser considerado um tabu, por diferentes motivos, como uma das dificuldades de se discuti-lo de forma mais abrangente. “Muitas pessoas não querem falar sobre, existe um estigma relacionado às pessoas que se matam e que têm tendências suicidas. Mas é urgente tratar desse assunto, os números nos alertam”, afirma.
Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018 durante o Setembro Amarelo – que faz campanha de prevenção ao suicídio -, mostram que, de 2007 a 2016, mais de 100 mil pessoas morreram em decorrência do autoextermínio. Naquele ano, a taxa foi de 5,8 por 100 mil habitantes. A região Sudeste do Brasil foi a que concentrou maior parte das ocorrências em 2017, 49% do total, seguida pela região Sul, com 25%. A meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de reduzir em 10% os casos de morte por suicídio até 2020.
Segundo Thaís, as famílias de pessoas que cometem suicídio, ou que tentam contra as próprias vidas, ficam bastante marcadas no próprio meio e diante da sociedade. Ela aponta o julgamento dessas pessoas e das situações como um erro. “As famílias vivem uma espécie de luto duplicado. O primeiro tem a ver com a perda em si e o segundo com o fato de que a pessoa foi responsável por provocar a própria morte”, explica. O ideal, de acordo com ela, é que as pessoas procurem não culpabilizar e sim entender o momento enfrentado pelas pessoas em questão.
“O suicídio está relacionado a um sofrimento extremo, mas há pessoas que fazem sim para chamar atenção. Mas, se alguém chega a tal ponto, em busca de atenção, é um indicativo, uma denúncia de que há algo errado, existe algum sofrimento real ali”, conta. “Se a pessoa perdeu o emprego, terminou um relacionamento, e passa a ter tendências suicidas, há algo muito importante para aquela pessoa ali. Não falar sobre o assunto, ou relativizar a dor do outro, não ajuda em nada”, explica. Ela conta ainda que adolescentes, jovens e pessoas LGBT encabeçam a lista de pessoas que cometem autoextermínio. “É preciso entendermos também o tempo, o espaço e o contexto em que estamos localizados. As pessoas estão sobrecarregadas”, diz.Thaís ainda afirma que o suicídio deve ser encarado como um problema de todos e aponta caminhos para que as pessoas se cuidem. “A sociedade tem que se envolver nessa discussão, assim como as famílias, amigos e pessoas próximas. O sofrimento do outro tem sido banalizado, mas é impossível pensar em intervenções sem traçar uma relação com o ambiente em que a pessoa propensa ao autoextermínio vive. Trata-se de todo um processo”, pondera.
Como pedir ajuda
Ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV), que auxilia na prevenção do suicídio, passaram a ser gratuitas em todo o país em julho do ano passado. Um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde, assinado em 2017, permitiu o acesso gratuito ao serviço, prestado pelo telefone 188.
Por meio do número, pessoas que sofrem de ansiedade, depressão ou que correm risco de cometer suicídio conversam com voluntários da instituição e são aconselhados.
A ligação gratuita para o CVV começou a ser implantada em Santa Maria (RS), há quatro anos, após o incêndio na boate Kiss, que matou 242 jovens. O centro existe há 55 anos e tem mais de 2 mil voluntários atuando na prevenção ao suicídio. A assistência também é prestada pessoalmente, por e-mail ou chat.