A solenidade de premiação da 1ª edição do “Educadores que Transformam” foi realizada na noite de quinta-feira (30/01), pela Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar. O prêmio buscou valorizar iniciativas pedagógicas transformadoras realizadas no ano de 2024, contemplando 32 professores da rede estadual de ensino, da capital e do interior do Amazonas.
O reconhecimento pelo trabalho desenvolvido em sala de aula rendeu aos professores vencedores um ensaio fotográfico que culminou em uma galeria de honra exposta no hall da sede da Secretaria de Educação. De acordo com a secretária de Educação, Arlete Mendonça, o prêmio, que tende a ser anual, é uma singela maneira de valorizar práticas pedagógicas de destaque nas escolas da rede estadual.
“Estamos muito felizes com o lançamento desse prêmio. Enquanto professora de formação, gostaria de agradecer esses profissionais que se dedicam diariamente dentro de sala de aula. Os frutos desse esforço podem ser vistos na prática, dentro e fora do estado do Amazonas”, destacou a secretária.
Iniciativas vencedoras
A seleção dos vencedores obedeceu a uma análise criteriosa das Coordenadorias Distritais de Educação (CDEs) na capital e da Secretaria Executiva Adjunta do Interior (Seai), da Secretaria de Educação, no interior. Entre as categorias em disputa, as escolas do interior do Amazonas tinham uma em específico para concorrer, a de Educação Escolar Indígena.
E foi nessa categoria que o professor Lizandro Barboza, da Escola Estadual (EE) Indígena Almirante Tamandaré, em Tabatinga (distante 1.108 quilômetros de Manaus), foi condecorado. O projeto, intitulado “Filosofia e Interface Culturais: Diálogos Interculturais entre Escolas Indígenas e Não Indígenas em Tabatinga”, alcança mais de 700 estudantes e já existe há 15 anos. A iniciativa é contemplada pelo Projeto Ciência na Escola (PCE) e acontece em três datas durante o ano.
No Dia Nacional dos Povos Indígenas, no aniversário da Aldeia Umariaçu, onde fica localizada a escola, e no Dia da Consciência Negra, Lizandro e seus alunos preparam uma verdadeira retomada étnica. Com palestras sobre a ancestralidade indígena, negra; momentos culturais com dança, teatro; exposições de comidas típicas e da medicina dos povos originários, os estudantes ticunas da região podem fortalecer suas raízes ancestrais.
“Fazer um projeto dessa natureza é dar voz aos povos da floresta. Não somente aos indígenas, mas também aos ribeirinhos. Vivemos em Tabatinga, numa região de tríplice fronteira, então o alcance é amplo. Na prática, realizamos uma troca entre culturas. Chamamos atenção para a valorização da nossa ancestralidade”, destacou Lizandro, que com o projeto, também conquistou prêmios da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Sebrae.
Escritores mirins
Também no interior do Amazonas, no município de Tefé (a 523 quilômetros da capital), a professora Débora Santos, que ministra a disciplina de Língua Portuguesa na EE Corintho Borges Façanha, transformou seus estudantes, de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em verdadeiros escritores. Em sua 3ª edição, o projeto “Estrelas Literárias” resulta, ao final do ano letivo, na publicação de livros com escritos autorais dos discentes.
“Nosso objetivo é incentivar a leitura e a produção textual com autoria do próprio aluno. Fazemos assim porque acreditamos que isso destaca o seu protagonismo, e durante a trajetória, sanamos algumas deficiências na aprendizagem, fortalecendo a autoestima do estudante”, ressaltou a professora.
Fortalecendo identidades
Já na EE Inspetora Dulcineia Varela Moura, na zona norte de Manaus, os esforços da professora Fernanda Magalhães na Educação Especial também foram reconhecidos pelo prêmio “Educadores que Transformam”. Com o projeto “Trajetória, Identidade e Direitos das Pessoas com Deficiência: Falando de Si com Estudantes do Ensino Médio”, que já acontece há cinco anos, alunos com deficiência, sem deficiência e familiares refletem sobre respeito e inclusão.
As atividades da iniciativa acontecem durante todo o ano letivo, inicialmente com palestras de acolhida, onde os debates sobre o que é deficiência e como combater a discriminação são os temas centrais. Na Semana da Conscientização sobre o Autismo, rodas de conversa e trabalhos de pesquisa são realizados. Já na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla, um processo de escuta ativa é realizado, onde os alunos com deficiência contam sobre suas experiências e vivências.
“Essas atividades são importantes porque colocamos luz em um assunto que muitas vezes é tabu. Colocamos pais e filhos para conversar, protagonizamos voz para que os próprios estudantes falem sobre suas especificidades. Estou muito feliz e grata pelo apoio que recebi dos meus colegas docentes e pelo reconhecimento do que desenvolvemos”, compartilhou Fernanda.
Negritude e acessibilidade
Também com um público de estudantes muitas vezes marginalizado pela sociedade, a professora Geny Bezerra, do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Agenor Ferreira Lima, zona centro-sul da capital, realizou um trabalho de resgate histórico e intelectual de grandes personalidades negras da história brasileira.
A docente, que ministra a disciplina de Artes, utilizou a premissa do Dia da Consciência Negra para realizar a atividade. Os estudantes pesquisaram personalidades, e a partir do contato com a biografia de cada um dos escolhidos, produziram quadros e pinturas por meio da técnica de texturas visuais. Carolina Maria de Jesus, Milton Santos e Zumbi dos Palmares foram alguns dos personagens escolhidos pela turma.
“Sou professora do Ceja Agenor Ferreira Lima há 20 anos, e sempre busco trabalhar com materiais alternativos, recicláveis, para diminuir o custo das atividades e tornar acessível a todos. Muitos acreditam que não são capazes de se expressar artisticamente, mas durante o processo, ganham confiança e percebem que podem sim”, enfatizou Geny.
Para além das já citadas Educação Escolar Indígena, de Jovens e Adultos, Especial e para alunos de 6º ao 9º ano, as outras categorias com vencedores no prêmio “Educadores que Transformam”, são: Ensino Fundamental I Anos Iniciais – 1º ao 5º ano; Ensino Médio; Inovação em Gestão Escolar e Educação do Campo.